Refinando o pensamento
- Jorge Gomes
- Dec 28, 2022
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Apreciando aquilo que há muito tempo foi desprezado, proibido e negado pela religião, a qual inverte a natureza...
Se aventurar na Filosofia é muito prazeroso. Garante-nos superpoderes (esses que não existiam antes de filosofar) e expande a visão além da nossa cosmovisão – aplicabilidade do conhecimento no cotidiano – como se ligasse um holofote em meia escuridão, independentemente da manifestação artística e religiosa, tampouco de sua idade.
Já anunciava Epicuro:
"Que ninguém hesite em se dedicar à filosofia enquanto jovem, nem se canse de fazê-la depois de velho, porque ninguém jamais é demasiado jovem ou demasiado velho para alcançar a saúde do espírito. Quem afirma que a hora de dedicar-se à filosofia ainda não chegou, ou que ela já passou, é como se dissesse que ainda não chegou ou que já passou a hora de ser feliz". (EPICURO, 300 AEC).
A desvalorização da filosofia acontece por dois motivos principais:
O primeiro motivo é o desconhecimento da importância do exercício filosófico para evolução do pensamento humano e para a humanidade, no qual o professor de filosofia e o filósofo acabam sendo mal remunerados e a filosofia sendo vista como algo de pessoas antiquadas.
O segundo é que o método filosófico desmascara visões de mundo, ideologias e instituições, isto é, verdades essas que manipulam e alienam o sujeito a ser sempre escravo na mão dos manipuladores, como grupos religiosos, empresariais e políticos.
Muito se pergunta se no futuro a Filosofia cairá em desuso pelas transformações e pelo avanço da ciência e tecnologia. Certa vez, o físico e cosmólogo britânico, Stephen Hawking, disse que “a Filosofia está morta" porque o campo de investigação naturalista está sob o domínio das Ciências.
Já o professor da universidade federal do Rio de Janeiro, Alberto Nóbrega, mestre em matemática e imunologia, dizia que a ciência está mais perto da dúvida do que antes e que as certezas estão mais para o campo religioso que para a Filosofia; e a ciência tem duas coisas em comum: buscam explicar o mundo e a nós mesmos.
A filosofia não tem processo, por isso é fadada ao fracasso. Todavia, os ilustríssimos autores pecam em ignorar a soberana arte de pensar.
Filosofar nos garantes a capacidade de filtragem. É um combustível para “ser quem eu sou", o domínio da autonomia, é o pensamento elaborado da ação.
Engana-se quem pensa que filosofar é ter pensamentos confusos e aleatórios.
O filósofo brasileiro Mário Sérgio Cortella nos ensina que "a Filosofia é a atitude metódica, disciplinada, estruturada e intencional de indagações sobre as razões".
É uma atividade circunspecta e conspícua com a departamentalização do conhecimento. Ela se mantém viva debatendo sobre ética, estética e política, a exemplo.
A ilimitação dos pensamentos filosóficos nos proporciona uma rede de possíveis resoluções a diversos problemas, ao invés de aceitar a realidade e os seus valores como são, como nos vendem.
A Filosofia nos dá o poder de contravir as convicções absolutas e reconstruir novos valores ou buscar pela transvalorização dos valores, defendida por Nietszsche. De acordo com a busca por potência, o homem forte deve superar a moral tradicional, ir além, em busca da apreciação à vida, apreciando aquilo que há muito tempo foi desprezado, proibido e negado pela religião, a qual inverte a natureza (negação do homem).
O exercício filosófico não é restrito às pessoas com inteligências sobrenaturais. O homem comum consegue se desenvolturar, a começar pelo método como instrumento de verificação do conhecimento (formulação dos problemas), com o intuito de afastar as ilusões em busca da verdade. Platão usava o diálogo como um método, onde fazia várias perguntas aos homens para encontrar falhas nos discursos e Aristóteles o aperfeiçoou com o método demonstrativo por meio dos silogismos com as conexões das ideias.
Assim, pode-se explorar os métodos dialético, hermenêutico e analítico. Questione, investigue e critique.
Nessa altura, o filósofo questionará as ideias, os valores, conceitos e projetos. Por meio das análises, consegue encontrar uma resposta para determinada situação ou solução para determinado problema. No caso do profissional, com pessoas contribuindo no melhoramento do pensamento e, consequentemente, melhorando suas ações. O filósofo empresarial – por exemplo – irá buscar formas para impulsionar o negócio, através do aperfeiçoamento do comportamento do líder e de seus colaboradores, verificando o problema e orientando o caminho para que a empresa tenha cada vez mais a ascensão com o poder filosofal. É possível aplicar esse método e o desenvolvimento humano é alcançado, caso o objetivo seja melhorar a forma de liderar e despertar engajamento nos funcionários.
“Questionar é um atributo do filósofo". (PLATÃO).
Portanto, como podemos observar, podemos utilizar o exercício filosófico onde quisermos e hoje existe até a clínica filosófica e com ela nós podemos trazer significados próprios a respeito dos significados existentes, onde colidimos com os moldes e damos machadadas nas verdades para ressignificarmos de acordo com nossa realidade. Por exemplo, num universo circundado pela publicidade e propaganda desenfreadas, que a todo instante a televisão, o rádio, os jornais, as redes sociais, etc., ficam martelando em nossa cabeça sobre o quê fazer, teríamos a autonomia e o poder de recriarmos o conceito de belo, o conceito de certo, o conceito de perda, entre outros conceitos.
A arte de filosofar é pensar com qualidade. É repensar a fim de cada vez mais refinar os nossos pensamentos. Portanto, use-a sem moderação.
Jorge Gomes.
Pedagogo.