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Nada

Eu sou a âncora que te mantém firme para o teu navegar. Com o teu nada e com o meu tudo, conseguiremos manter o equilíbrio...

(Consciência) – O que você sente?


(Eu lírico) – Eu sinto Nada.


(Consciência) – Você quer dizer que não sente nada?


(Eu lírico) – Não! Eu estou dizendo que sinto nada.


(Consciência) – Como é possível sentir o nada? Nada é ausência de tudo.


(Eu lírico) – Justamente o que eu falei: eu sinto nada, a ausência de tudo. Eu sinto os vazios, eu sinto a insignificância, eu sinto nada.


(Consciência) – Então, vamos pôr os pingos nos is. Se você sente insignificância, sente algo; e se sente algo, já não está vazia.


(Eu lírico) – A sua negação do nada é medo; você tem medo de sentir o vazio e tem medo de não se sustentar quando estiver como eu, cheia de nada. Mas, entendo eu, para quem carregou esqueletos e poeira durante a vida inteira, abrir mão do peso é coisa de se pensar. Tem medo de flutuar e por isso você fica se enchendo de trabalho inútil. Faça como eu: se encha de nada.


(Consciência) – Mas, não tem como me encher de nada, pois já tenho tudo; e para ter nada, terei de largar esse tudo. Isso não é uma boa troca. Faça você como eu: se encha de algo e deixe esse nada de lado.


(Eu lírico) – E esse é o seu medo falando neste momento. Joga ele fora e vais ver como se sentirá mais leve. Não deixe o medo e tudo que você carrega te acorrentarem. Se encha de nada. Você vai gostar, tenho certeza!


(Consciência) – Eu não sei fazer isso. Estou acostumada com o peso e, além do mais, se me esvaziar, serão dois cheios de nada. E aí, como poderei te contrastar? Eu sou a âncora que te mantém firme para o teu navegar. Ande com o teu nada e eu fico com o meu tudo e, assim, conseguiremos manter o equilíbrio.


(Eu lírico) – Se assim desejas, não vou lhe contrariar. Ande com seus pés firmes no chão que eu sigo a flutuar.


Cleisianne Leite.

Fomanda em Biblioteconomia.

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1 Comment


Thiago Carvalho
Thiago Carvalho
Jan 22, 2023

Olá, Cleisianne Leite.


Seus textos são maravilhosos demais. São fluidos, suaves, doblaveis, macios, enfim, gostosos de ouvir e muito bons para refletir ou pensar. Mesmo num texto curtinho como esse há de fundo uma questão pertinente ao pensamento.

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