Ansiedade: o que você precisa fazer em momentos de crise
- Anderson Cruz
- 19 de fev. de 2023
- 9 min de leitura
Atualizado: 27 de fev. de 2023
A ansiedade é um estado de calamidade emocional, ausência de atenção própria, um desatentamento ao que acontece e que privilegia as facetas criadas por mentes inquietas...
Somos todos como uma bomba prestes a explodir sem perceber o quanto de dor causará em nós mesmos, assim como em quem convive conosco. O mundo necessita de terapia e isso é uma emergência!
Vivemos em negação
Você já percebeu que, neste mundo, somos condicionados a demonstrarmos força diante de tudo o que nos acontece? Somos, constantemente, exigidos a ignorar as nossas fraquezas para, assim, assumirmos um papel que, quando vivido em sua literalidade, só nos faz viver com recursos paliativos, que nada resolve, apenas expõe a nossa soberba.
Falo do papel do “herói indestrutível”, aquele que é forjado pela pressão psicossocial, que apresenta resiliência, persistência, fé e determinação. Porém, aquilo que se apresenta apenas por aparências, chega a não revelar a face real da condição humana em que nos encontramos.
Pela necessidade imputada, buscamos nos transformar nesse herói para superarmos a ideia de inapetentência; talvez, para servir de bom exemplo para filhos e outros admiradores. No entanto, de onde vem a necessidade para termos essa ânsia? Quem (ou o quê) exige tanto assim de nós que nos faz perdermos a conexão com quem, realmente, somos? Seria o próprio mundo?
O mundo já nos definiu, mas insistimos em querer negar o que somos: vulneráveis por uma fraqueza inata.
A verdade é que somos tão facilmente osciláveis quanto a Ciclotomia afetando o humor de quem possui essa doença; e a vulnerabilidade que nos acomete pela angústia da instância (isto é, daquilo que está prestes a acontecer) nos enforca em ansiedade. Mas, para todos os efeitos, temos que estar impecáveis, assumir uma postura de indestrutibilidade; e quando nos damos conta do que está acontecendo, nós desabamos em lágrimas, num solo movediço e imperdoável que nos apequena diante do caos emocional.
O mundo acelera e com ele nós caminhamos com pressa para chegar a algum lugar que, quase nunca, sabemos onde fica. Parece-me uma corrida em uma busca por nada, a não ser por tornar mais agoniada a vida.
Na Universidade de Harvard (para piorar), uma pesquisa constatou que o ser humano passa (aproximadamente) 50% do tempo diário perdido em lembranças ou em preocupações, ou seja, conflito entre passado e futuro. Um quadro lastimável, mas não surpreendente.
Tal cenário aponta para o humor afetado que todos nós estamos sujeitos, aumentando ainda mais a balbúrdia mental que tanto queremos – sem podermos – evitar.
Essa breve introdução serve para destacar o quanto esse cenário tem se fortalecido nos dias atuais e tende a piorar a cada vez que o ser humano não aprende a lidar com crises de ansiedade. Por isso, precisamos falar disso.
A definição
Ansiedade: no que consiste, afinal?
Iniciaremos pelo termo em si, à luz do psicólogo Burrhus Frederic Skinner.

A ansiedade, assim, é um estado de calamidade emocional, ausência de atenção própria, um desatentamento ao que acontece que privilegia as facetas criadas por mentes inquietas. O ponto em comum é que todos nós somos potencialmente inquietos e isso nos faz ser, inevitavelmente, acelerados; alguns menos, outros mais.
Vale ressaltar, aqui, que o problema maior não está em ter ansiedade, já que todos estão submetidos (inclusive, muitos se espantam por verem que até nós – terapeutas – chegamos a esse estado); porém, grave é quando você não consegue identificar os efeitos provocados pela ansiedade e, por isso, passa a se tornar manipulável pelas armadilhas criadas em suas próprias mentes.
Estar ansioso, então, é estar em agonia por um futuro indesejado. Trata-se de uma sensação de apreensão que nos gera a percepção de que algo ruim pode acontecer, proporcionando-nos sintomas físicos desagradáveis, como alteração dos batimentos cardíacos e do ritmo da respiração, compressão no peito, tensão muscular e suor incomum (hiperidrose). Essa sensação pode durar minutos, dias, semanas ou, até mesmo, meses; isso depende do nível de ameaça existente, mesmo a imaginada.
Segundo a psicóloga e terapeuta cognitivo comportamental Sarah Edelman, alguns estudos revelam que 10% da população mundial sofrem de um transtorno de ansiedade em alguma época da vida, incluindo Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG), Transtorno do Pânico (TP), Agorafobia, Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC), Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT) e fobias específicas (como medo de voar, de alturas e de aranhas). Isso mostra a relação da ansiedade com vários transtornos e que isso pode até ser considerado comum, principalmente no tempo em que vivemos, com tarefas cumulativas e stress diário.
Quando uma pessoa está ansiosa, por exemplo, alguns sinais são expostos de que alguma coisa está errada com ela, mesmo que não diga uma palavra. É nesse momento que algo tem de ser feito e nem sempre as orientações são resolutivas, o que intensifica a sensação de que o presente estado não vai passar.
No intuito de ajudar a quem se encontra em um estado ansioso, comum é ouvirmos a fala de que se precisa estar atento ao presente momento, abdicando do passado e do futuro, o que é verdade – embora não tão simples assim. No entanto, onde está esse presente, se cada milésimo de segundo que passa se torna um novo passado? Como estar no presente, se cada passo nos traz um novo presente?
Por experiência de casos, posso dizer que lidar com isso não é nada confortável, mesmo que você se sinta o herói indestrutível, pois até um movimento equilibrado pode sucumbir a uma pressão psicológica.
Para reforço, vale salientar:
“Nenhum comportamento bem formado, favorável ou desfavorável, é forte”. (SKINNER, 1978).
Tudo parece estar bem e, de repente, a tranquilidade cede lugar à tempestade.
Veja o seguinte:
Você pode se ver tranquilo em algum momento. Com isso, decide sentar para adiantar um serviço em seu computador. Mesmo que o trabalho não seja para o dia, algo pode acontecer; e acontece. De repente, o ar reduz em seu peito e, em questão de segundos, você percebe que está ofegante. O mal estar chega e a sensação é de que precisará logo de um atendimento médico, o que também pode ser uma necessidade real.
Ao ser atendido, você fica sabendo que sua pressão arterial está em 120/80 mmHg; que a oxigenação em 98%; e que sua frequência cardíaca voltou a 70 bpm. Você parece não acreditar que tudo está aparentemente normal, porque o que sentiu era o pressuposto de algo desesperador.
E é nesse momento que somos impulsionados a rejeitar tudo o que de científico nos é mostrado, pois nada disso pode estar congruente como o que se sente. Que alívio, então, você pode ter se a razão trazida pela ciência não condiz com o sentir?
Contudo, o ponto central está justamente aí: no significado que você dá ao que sente.
O que sentimos nem sempre descreve com exatidão o que, realmente, está acontecendo. Isso é um pressuposto para entendermos que frases do tipo “estou sentindo que vou passar vergonha”, “sinto que não vão me aceitar”, ou “tenho a sensação de que não vou conseguir”, servem apenas para despertar (em nós) pensamentos de previsão, o que não significa garantia de que vai acontecer.
Agora, se for preciso, respire suavemente... Respire... Respire mais uma vez... E, aos poucos, retorne ao seu ponto de equilíbrio e perceba que tudo ao seu redor está fluindo normalmente.
Os passos meditativos
Em casos de crise, é comum você buscar por várias intervenções paliativas no intuito de aliviar-se da angústia. Vários são os métodos para o controle da ansiedade. Respirações, músicas e sorrisos podem – sim – aliviar uma dor emocional (isso jamais poderá ser refutado); porém, se sua busca não for além, isso será apenas remediações para sintomas sem que entenda o núcleo do próprio caso.
Então, o que fazer, de fato, para a ansiedade ser evitada?
Nada!
– “Como assim?” – você pode estar se perguntando.
Se nós estamos tratando de algo que é inerente ao ser humano, então, o esforço para evita-lo é inútil. Tudo porque não é evitado, mas se aprende a lidar; até porque a ansiedade, em si, é natural e necessária.
Então, o que fazer para administrar a ansiedade? Essa é a pergunta correta.
O primeiro passo é aceitar que ansiedade é resultado da condição humana e que surge entre as perturbações silenciosas da cognição, em relação ao estilo de vida que adotamos para nós mesmos. Por isso, quanto mais somos estimulados por fatores externos, mais somos condicionados a nos tornar ansiosos por uma mente que é capaz de criar cenários desastrosos, quando – talvez – nada de mais está para acontecer, a não ser na própria fantasia.
Segundo, é entender que meditar é uma necessidade. Ao contrário do que muitas pessoas pensam, não se trata apenas de relaxar e sim, de organizar os pensamentos. Mas, tal esforço incomoda e leva você a fazer o que, muitas vezes, não deseja: desacelerar.
Não importa o quanto você é atarefado, é preciso parar um pouco, diminuir o ritmo, sair do ambiente em que está, falar de outro assunto e – principalmente – respirar da maneira correta (respiração diafragmática). Esse momento é fundamental para que tudo desacelere até você se recompor. Ao retornar, você estará em um novo momento; em equilíbrio; em outra vibração.
Meditar é um ato de desligamento do mundo exterior, o que contribui à concentração do que está acontecendo em nosso interior. A palavra em si está enraizada no latim, cujo termo “meditatium” significa “ponderar”; outra versão, também do latim, vem de “meditare”, que significa “voltar-se para o centro”. Ambas se completam, pois a ponderação se dá no centro das coisas, ou seja, longe das extremidades.
Logo, “equilíbrio” é o ponto central para uma meditação e é em direção a ele que devemos caminhar. Isso significa que, ao meditar, você está buscando a paz que guerreia contra as suas perturbações, a fim de fazer prevalecer a ordem dentro de si. Com isso, ao buscar equilíbrio, atente-se ao quanto você é mobilizado por uma meditação.
Para esse equilíbrio, a respiração diafragmática é o segredo. Caso você possa, sente-se em algum lugar e mantenha a coluna ereta, com suas mãos apoiadas em suas coxas. Feche os olhos, ou os deixe entreabertos; respire profundamente (inspire pelo nariz, conte até três e solte o ar pela boca suavemente). Inevitavelmente, você relaxará e esse é o momento mais propício para a sua meditação.
Durante o processo de estabilização emocional, vem o terceiro passo; a partir daqui, voltemos a falar do presente momento.
A professora e terapeuta Amanda Dreher é uma das referências no Brasil quanto a práticas meditativas e, em uma de suas obras, ela disse:
“O processo meditativo se dá quando a mente está desidentificada dos pensamentos, desapegada de preocupações e desejos desordenados, sem nenhuma luta, nem no passado, nem no futuro, apenas no momento presente”. (DREHER, 2016).
Entretanto, o tempo é intangível e, por isso, difícil de percebê-lo. Como é possível, então, estar no presente?
Em um parágrafo anterior, eu disse que – a cada passo dado – temos um novo presente, o que dificulta o entendimento sobre o termo “agora”. Você pode estar parado, relaxado e a pensar em tudo o que está acontecendo dentro e fora de si que, mesmo assim, cada fato pensado deixou de ser presente para se tornar passado.
Portanto, estar presente é acompanhar cada passo. É estar em movimento com a atenção devida. Organizar os pensamentos não significa estar parado e evitar o que acontece ao redor; pelo contrário, significa você desacelerar seus movimentos para que perceba a si próprio e, com isso, pensar menos ao que já foi e ao que, provavelmente, poderá acontecer.
Assim sendo, para uma meditação eficaz, perguntas de questionamentos são fundamentais; e aí está o (não menos importante) quarto passo. Para iniciar, aqui vão alguns dos exemplos de necessárias perguntas:
“O que está atraindo, de fato, a minha atenção?”; “Será que é tão catastrófico cometer erros?”; “O que eu posso alterar em minha rotina que contribua na diminuição dos efeitos da ansiedade?”; “Em quais momentos eu posso parar para respirar profundamente?”; “O que eu quero que aconteça, ao invés disso?”.
Pensamentos questionadores nos levam a questionamentos comportamentais, isto é, você cria perguntas de confronto e – consequentemente – reage enfrentando a situação. Assim como para o medo, que uma das soluções imediatas é enfrenta-lo, assim também o é para crises de ansiedade.
Conclusão
Caminhar em direção à paz interior é o meio para lidar com a ansiedade. Para tanto, é necessário ter a consciência do que acontece para planejar ações que contribuam ao amadurecimento pessoal, mesmo diante de sensações catastróficas.
Tendo essa consciência, percebemos que ansiedade é um estado em que nos coloca em agonia por um futuro indesejado. Nesse estado, nós abdicamos de prestar atenção ao que acontece para prevermos o que poderá (ou não) acontecer, alimentados por sensações que mais nos causam ilusão que garantias.
Já a busca por evita-la é uma tentativa fadada ao fracasso, pois isso alonga a agonia. Você pode entender que todos estão sujeitos – mesmo os que são treinados cognitivamente para tal estado.
Portanto, aprende-se que tentar evitar a ansiedade é a pior escolha; enquanto que a busca para aprender a lidar com ela é o caminho ideal.
Quanto a isso, vimos alguns passos que nos ajudam:
1. Aceitar que ansiedade é resultado da condição humana e que surge entre as perturbações silenciosas da cognição, em relação ao estilo de vida que adotamos para nós mesmos.
2. Entender que meditar é uma necessidade para obter-se o equilíbrio, ponto central para uma meditação. Para tanto, faz-se necessária a respiração diafragmática (inspire pelo nariz, conte até três e solte o ar pela boca suavemente).
3. Atentar-se para o momento presente, isto é, acompanhar cada passo que você está dando, pois estar no presente é estar em movimento.
4. Fazer perguntas de questionamento para ter reações de confronto diante da ansiedade.
Seguindo os passos acima até torna-los hábitos, fará de você um ser consciente e, com isso, terá condições suficientes para tomar decisões importantes diante de crises, como as provocadas pela ansiedade.
Para findar, querer parecer o herói indestrutível só faz fortalecer uma mente doentia, a qual insiste em ocultar a realidade. A verdade é que somos – todos nós – o problema e a solução, induzidos pelo meio externo, embora influenciados pelo caos interno.
Compreenda-se e encontrarás uma nova forma de pensar; assim sendo, a ansiedade não mais te controlará.
Referências
NHAT HANH, Thich. Paz é cada passo: O caminho da atenção plena. Petrópolis: Vozes, 2019.
DREHER, Amanda. Meditar Transforma. Nova Petrópolis: Luz da Serra, 2016.
EDELMAN, Sarah. Basta pensar diferente. São Paulo: Fundamento, 2014.
BORLOT, Elizeu. pepsic.bvsalud.org, 2008. Disponível em: pepsic.bvsalud.org
SKINNER, B. F. O comportamento verbal. São Paulo: Cultrix, 1978.
Anderson Cruz.
Terapeuta Cognitivo Comportamental.
Agradeço muito a Deus por encontrar esse texto, pois me ajudou muito. Obrigada também, Anderson Cruz e parabéns pelo texto.
Um texto muito bem escrito para mostrar a realidade catastrófica, como bem diz o próprio artigo. Parabéns, Anderson!!!
Artigo muito bom e elucidativo, muito apropriado para nossos dias atuais, principalmente pós pandemia Covid. Valeu amigo pelo belo artigo, o que me levou a uma profunda reflexão.
Nemézio Félix
É muito necessário esse tema. Obrigado por tudo! Realmente está sendo importante na minha vida.
Estou impressionado! Ótimo texto, seja pela qualidade da escrita como pelo conteúdo.