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Cap. 03: O vazio da vida

Atualizado: 3 de out. de 2024

Sentir a vida é o que nos permite compreendê-la, e refleti-la é o que nos permite aceitá-la tal como é...

Resumo


Até aqui, vimos que afirmar uma finalidade para a nossa existência não é tão simples quanto se parece, haja vista as diferentes percepções que abordamos nos dois primeiros capítulos.


Existimos para um propósito predeterminado ou tudo é relativizado? Essa é a questão a qual chegamos.


Uma fonte essencial que deu origem a tudo é uma ideia tolerável para quase todas as pessoas; porém torna-la como determinante para a finalidade da existência humana requer que abdiquemos do conceito “livre arbítrio”; e esse antagonismo ficou claro nos capítulos anteriores.


Lembro que a proposta desta série é ajudar você a refletir sobre a finalidade de sua existência e, para tanto, pausar no sentido que a vida tem (ou não) ajudará nessa reflexão.


Então, peço a sua atenção para o que lerá a seguir, pois é de suma importância para o objetivo deste material.


Para ler os capítulos anteriores na íntegra, clique aqui.


A vida é vazia de sentido


O que há de novidade em um dia após o outro? Todos os dias seguimos uma rotina que consiste em acordar, cumprir rituais matinais, alimentar-nos, buscar trabalho bem remunerado, reconhecimento e distração. Além disso, preocupamo-nos com compromissos financeiros e com um futuro confortável que nos eleve a um grau de importância social. Esse ciclo diário parece ter diminuído para oito horas, devido ao ritmo frenético em que vivemos.


Depois dos desafios diários, chega o cansaço e outro ciclo começa ao fecharmos os olhos. Com o tempo, envelhecemos e aprendemos lições em ciclos de sofrimento e insatisfação, mesmo sendo, ainda, insuficiente para entendermos o propósito de tudo isso; afinal, a vida precisa ter um propósito para nós.


Para esclarecer ainda mais, imagine o seguinte cenário:


 

Os pais inscrevem seu filho de 08 anos em uma academia de Judô. A faixa branca o encanta e o convida para uma nova filosofia de vida, expressa pelos orientais. Um início promissor, com ânimo e disposição para aprender esse esporte fascinante pelas quedas e, também, para construir [quem sabe] novas amizades.


Contudo, após um ano, o menino não apresenta mais a mesma vontade para praticar Judô. Aparenta fazer tudo sem comprometimento e, com isso, seu desempenho é afetado. Sofre calado por se sentir na obrigação de estar em mais um “treino” que – para ele – se tornou custoso.


Sendo questionado, ele responde veementemente: – Eu não vejo sentido nenhum em fazer Judô!


Após se abrir, ele relata características das aulas. Aulas com exercícios repetitivos e tudo parecendo ser um passatempo. Sendo ele acostumado com estímulos desafiadores, tudo na aula deixou de ser atrativo.


Uma semana se passa e a academia anuncia um torneio, convocando seus alunos. Imediatamente, surge um novo ânimo, para a surpresa dos pais. A partir daí, ele segue motivado até o término do torneio para, então, entrar em um novo sofrimento.


 

Sabe-se que o Judô traz vários benefícios à vida em vários aspectos. Palavras como paz, concentração, companheirismo e disciplina são comuns durante as aulas; porém o esporte em questão precisa de um objetivo concreto (assim como qualquer outro). Quanto ao menino desanimado, o desafio de se superar tornou-se uma meta; e o torneio, assim, passou a ser o gatilho para ele ver um sentido na prática do Judô.


Podemos ver que, se não considerarmos sua representatividade e seus benefícios, no Judô nós não encontraremos nenhum sentido; pois tudo estará resumido a um esporte que apenas existe. No entanto, por meio da prática de suas técnicas e de suas filosofias é possível perceber a evolução de um judoca. Por conseguinte, ao olhar para si e entender as habilidades adquiridas, um praticante de Judô pode encontrar sentido em pratica-lo.


Tal exemplo se encaixa como analogia para falarmos sobre nossa existência. Então, vamos além.


O sofrer pode trazer alguma resposta


Há quem enxergue a vida como uma gangorra em seus movimentos: em um dia estamos no alto e no próximo, embaixo. Vivenciamos momentos alegres e inspiradores, seguidos por períodos de desânimo e tristeza.


Quando estamos felizes, desfrutamos de momentos que parecem passar rapidamente. Porém, quando tristes e sofrendo, um momento pode virar uma eternidade. Isso porque vivemos mais intensamente no sofrimento do que no prazer, pois é nesse estado que nos voltamos para nós mesmos; e essa sensação parece durar muito tempo.


Nutrimos a expectativa de que, com o tempo, conseguiremos sair do sofrimento e desfrutar de conforto e alívio, mas nos aproximamos da dor constantemente. Na verdade, o sofrimento é mais importante do que parece e, quando sofremos, rapidamente nos perguntamos sobre o propósito dessa dor.


Seria o sofrimento, então, o fornecedor de um sentido para a vida?


Dificilmente a resposta para essa pergunta é encontrada sem os efeitos do sofrimento; e para tornar a vida ainda mais divertida, mesmo quando aparecemos com o semblante caído diante de diversas adversidades, o universo se encarrega de proporcionar encontros com pessoas em uma situação ainda pior (quantas vezes isso já aconteceu?).


Diante da dor alheia, somos levados por uma força que nos faz esquecer nossos próprios tormentos, capacitando-nos – mesmo que por um instante – a racionalizar a situação e oferecer palavras e pensamentos que acolhem o próximo, promovendo ânimo e alívio. Nesse momento, sentimo-nos poderosos, inabaláveis, constantes. A força que foi suficiente para aliviar a dor do outro também é capaz de curar a nossa própria aflição.


Assim, resolver o problema da outra pessoa deixa de ser o foco por se tratar de aliviar uma dor; por isso, prefiro [aqui] me ater em como nossa condição muda quando somos úteis para alguém. A verdade é que cada dor é um estímulo necessário para uma superação que fortalece nossa autoconfiança. Isso fica evidente ao vermos um sorriso no rosto de alguém que, minutos antes, estava angustiado. Se esse sorriso é capaz de alterar nosso estado, então, através desse resultado, podemos encontrar um sentido na vida.


Aproveitando a oportunidade, o termo "sentido" pode ter um significado amplo, mas sua origem latina, do termo "sentire", nos remete à experiência por meio das sensações e da razão. Dessarte, podemos dizer que sentir a vida é o que nos permite compreendê-la, e refleti-la é o que nos permite aceitá-la tal como é.


Assim, como no exemplo do Judô, a vida por si só não possui sentido algum. Para que haja sentido, precisamos passar por experiências (seja elas quais forem) que nos conectem conscientemente ao mundo em nossa volta. Por isso, a utilidade pode ser o meio pelo qual encontramos mais sentido em viver.


Portanto, seja intencionalmente útil.



Anderson Cruz.

Terapeuta Cognitivo Comportamental.

 

Nota: Leia os capítulos anteriores, clicando aqui.



3 Comments


Guest
May 14, 2024

Genial! Esse texto me deu muitas reflexões. É importante todos nós pensarmos no quanto a vida vale. Parabéns!!!

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Guest
Dec 20, 2023

Excelente!!!

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Marcelo Kassab
Marcelo Kassab
Jun 02, 2023

Essencial.

A reflexão vem, geralmente, com as perdas. Nas vitórias, estamos ocupados com a celebração.

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