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Sinais

Elementos comuns em um caminho comum, mas os sinais se encontram na singularidade do cotidiano...

Era pra ser um dia comum, manhã comum, sem nada especial ou relevante, se não fossem os sinais.


Só notamos os sinais quando, ao girar levemente para buscar o ponto inicial dos eventos, identificamos a singularidade.


Era uma segunda-feira como qualquer outra, se não fosse aquela impressão estranha de acordar pela madrugada – mesmo com o toque do despertador indicando a mesma hora de todos os dias – para seguir o mesmo ritual matutino: Sair da cama na ponta dos pés e ir ao banheiro.


A manhã escura indicava chuva à vista, mas isso não interferiria no ritual de um bom banho, de vestir o uniforme, tomar um café da manhã e sair sem fazer barulho para não acordar o filhote.


Chegar ao pé da escada, veio em minha mente a lembrança do guarda-chuva na estante, os pingos suaves molhando o rosto, pois a chuva era tão suave que lembrava o orvalho. Subir quatro lances de escada, nesse momento, causaria um atraso.


Sinais ou escolhas?


Optei por encarar a chuva sem proteção alguma; uma decisão. O atraso não era aceitável. Assim, saí do condomínio observando as nuvens no céu e calculando se a chuva demoraria. A praça defronte, que normalmente tem fileiras de pessoas aguardando atendimento, estava deserta e silenciosa. De repente, os sinais se intensificaram; ao olhar para o céu e para a rua deserta, a chuva se tornou intensa em poucos segundos. No caminho repetido, por incontáveis vezes, aconteceu algo inédito: uma briga de pássaros na chuva. Era um casal (presumi por ser um par de pássaros da mesma espécie) pequeno, atacando um enorme pássaro.


Parecia que tudo se movia em câmera lenta e não durou mais de cem passos em observação para eu pensar os tais pássaros – provavelmente – teriam um lar em perigo, um filho em perigo; um casal que, por amor, se lançou contra o inimigo para salvar tudo o que de mais precioso possuíam.


Foram cem passos que me fizeram entender o quanto é inevitável um combate, quando se tem um lar e um filho em perigo; e o dia mais comum, se tornou inesquecível.


Elementos comuns (chuva e pássaros) em um caminho comum, mas os sinais se encontram na singularidade do cotidiano, nos elementos que – de alguma forma – se tornam combinações singulares.


E se eu retornasse para pegar o guarda-chuva?


E se eu não acordasse no horário programado?


Os sinais, na verdade, são as escolhas que nos levam a combinar elementos comuns em momento único.


Cleisianne Leite.

Fomanda em Biblioteconomia.

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2 Comments


Guest
Feb 27, 2023

Parabéns! Que reflexão incrível

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Guest
Feb 27, 2023

Incrível, gosto muito dos seus textos!

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