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Superlucros: moeda suja

A proporção de lucro de muitas empresas é absurda e a maioria dos seus funcionários vive em condições desumanas...

No século V, foi divulgado um trabalho incrível conhecido como "A Política" (e outros trabalhos) do filósofo e professor do imperador Alexandre, o grande, cuja obra foi dedicada a investigar a política e trazer propostas para uma vida feliz, tanto individual quanto coletiva. Em um de seus livros, Aristóteles defendia o uso da moeda como meio facilitador das transações, já que as trocas seriam custosas. Enxergava a moeda como objeto que desenvolveu naturalmente na sociedade. Exerce, assim, uma função útil à sociedade. Contudo, acreditava que a moeda tinha seu lado improdutivo quando se cobrava juros e lucros. O filósofo acreditava que a riqueza natural advém da aquisição de propriedades, pois necessitamos disso para a sobrevivência, e a riqueza antinatural advém dos lucros e juros. Os meios de troca iam mudando ao decorrer do tempo, de barras de ouros, metais e até a chegada das moedas. Não havia mais a necessidade de mensurar o objeto de troca, já que a moeda tinha um valor incutido correspondente.

 

"Tão logo a importação de mercadorias e a exportação de bens excedentes começaram a facilitar a satisfação de necessidades além das fronteiras nacionais, os homens inevitavelmente recorreram ao uso da moeda cunhada. Nem todas as coisas que naturalmente necessitamos são facilmente carregadas (...)". (ARISTÓTELES, 1913).

 

Apontava ele que o advento da moeda promoveu o desenvolvimento econômico; aquilo que parecia ser algo espontâneo e inofensivo, acarretou numa forma de excesso, no comércio onde os homens estavam mais interessados em descobrir como e onde deviam produzir mais lucros e, consequentemente, acumular patrimônios, prejudicando no pleno desenvolvimento humano. Ele defendia o lucro advindo da agricultura e não do comércio porque essa seria a forma natural de obter lucros: da colheita e da criação de animais.


A expansão grega deriva da necessidade de encontrar terras férteis porque o solo predominantemente montanhoso (geologicamente recente) da Grécia antiga se torna fragilizado em decorrência das mudanças climáticas. Com os deslizamentos, inundações, entre outros, a fertilidade da terra é posto em xeque, trazendo perdas significativas que emergem em problemas sócio econômicos. Em menor escala, existem terras baixas denominadas de planícies; as regiões que possuíam barreiras geográficas dificultavam a união entre as comunidades gregas.


Além da necessidade de buscar terras e metais preciosos, a Grécia precisava alocar os trabalhadores rurais que usavam outras regiões como dormitórios; essas mudanças favoreceram no desenvolvimento do comércio na Grécia Antiga em torno de VIII a.C.. A partir daí, as povoações que viviam em comunidades isoladas começaram a estabelecer uma relação aproximada e assim, surgiram as comparações culturais junto com o crescimento dos comerciantes, a substituição de moedas sagradas e trocas de produtos, pela moeda convencionada e com valor próprio.


Em 1776 foi publicado o livro I de Adam Smith, uma investigação sobre a natureza e as causas da riqueza das nações. Nesta primeira obra, o autor mostra que a produtividade aumentou devido à divisão de trabalho que traz mais agilidade na produção das mercadorias. Antes, o artesão tinha que construir sozinho uma panela, buscava a argila, pintava o utensílio com a tinta extraída da pedra Toá, tinha que comercializar, etc. Depois, com a divisão de trabalho, cada pessoa se tornou responsável por montar uma parte da panela.


A complexidade se estende além da indústria. Por exemplo, o primeiro processo é a mineração que consiste extrair minérios da crosta terrestre, como os alumínios, que são retirados da bauxita. O segundo processo é a refinaria em que a bauxita é submetida numa solução aquecida e soda cáustica, que se forma uma alumina. O terceiro é a redução do alumínio que ocorre num procedimento conhecido como Hall-Héroult – que consiste colocar a alumina em cubas eletrolíticas a fim de diminuir a alumina calcinada. Essa é uma das formas de obtenção dos materiais para a construção de algumas mercadorias.


Na próxima fase, adentramos ao sistema de produção que apresenta três formas:


• Sistema de produção continua;

• Sistema de produção intermitente;

• Sistema de produção para grandes projetos.


A primeira forma é o modo tradicional que busca produzir mais produtos em menor tempo; é uma produção detalhada, geralmente acontecem em indústrias automotivas. A segunda forma é a produção de mercadorias por lotes; produzem de acordo com a encomenda, havendo uma previsibilidade. A terceira é a produção de grandes projetos; geralmente os preços dos objetos produzidos são mais elevados por conta da personalização exigida, como peças de aeronaves.


Há um esforço para o desenvolvimento de indústrias, comércios, refinarias entre outros. A responsabilidade consiste, primeiramente, em arcar com as despesas do negócio com os possíveis riscos. A exemplo, o investimento intelectual nas indústrias, como gerenciar a infraestrutura, conhecimentos como Just in time, Kanban, Seis Sigma, 5S etc.


No caso do comerciante (como um dono do supermercado), por exemplo, primeiramente precisará de dinheiro para investir e arriscar. Há a preocupação com a localização, com o aluguel do local, dos detalhes sobre a vigilância sanitária, as licenças para o funcionamento, as questões tributárias (ICMS, ISS, etc.), programas de treinando especializado – em alguns casos –, assistência de marketing, desenvolvimento do layout, montagem de balcões de atendimento, guarda volumes, checkout para supermercado, balcão de congelados, móveis para estocagem, segurança no local, entre outros.


A dificuldade aumenta ao contratar funcionários, pois na folha de pagamento há encargos, como INSS e FGTS, e direitos, como descanso remunerado, férias, entre outros. A empresa pagará em torno de 70% a mais do valor do próprio salário do colaborador; se a pessoa recebe R$ 1000, o patrão terá o gasto de R$ 1700, além de contribuir com vale alimentação ou refeição; transporte com desconto de 6% do colaborador na folha. Isso acaba dificultando e desestimulando muitas pessoas de empreenderem.


Do lado do trabalhador, há uma jornada de trabalho exaustiva. Muitas vezes os operários trabalham o dia todo, mais o tempo de locomoção (ida e volta), supondo que acorda às 06hs e precisa está no trabalho às 08hs, e sai do trabalho às 18hs e chega em casa às 20:00hs, imaginando que deva dormir regularmente 08 horas por dia, sobraria apenas 02 horas do seu dia "livre", no qual terá dificuldade em praticar atividade física e dificuldade em se concentrar para ter uma aprendizagem mais produtiva; e muitas vezes sem tempo para si e para a família, ganhando um salário pífio, justificado que o trabalho que faz não exige muita capacidade, mesmo sabendo que o patrão ganha mais que o dobro em cima daquilo que produz.


O próprio Adam Smith percebeu que a divisão de trabalho, que acontece nesse sistema de produção, leva à alienação do sujeito porque não consegue ter a noção da produção do todo, mas somente da parte que são responsáveis a executar a tarefa, que é o dever do Estado prover Educação.


À luz de Smith:

 

“A sociedade pode obrigar a grande maioria dos cidadãos a obter aqueles elementos mais básicos da educação, exigindo que passem por um exame ou estágio para exercer sua profissão ou abrir um negócio no centro comercial de um bairro ou cidade”. (SMITH, 1776).

 

Em 1867, o Sociólogo Karl Marx inaugura uma das suas principais bibliografias: O Capital I. A obra traz análises críticas ferrenhas do capitalismo, sobretudo o modo de produção, onde divide a sociedade em produtores x trabalhadores. Neste caso, por não ter capital, o colaborador necessita vender sua força de trabalho para sobreviver. Antes, as pessoas trabalhavam para resolver suas necessidades básicas, mas, depois, surge a necessidade de produzir para obter lucros.


Vejamos a seguinte frase:

 

“Na manufatura e no artesanato, o trabalhador utiliza a ferramenta; na fábrica, ele é um servo da máquina”. (MARX,1867).

 

Conhecido como D-M-D, utiliza-se o dinheiro para produzir uma mercadoria que será vendida como objetivo de obter mais dinheiro. Essa equação é que leva o acúmulo de capital, segundo Marx. Ainda, o pensador entra em consonância com Smith quando aponta a alienação nos trabalhadores por se afastarem do produto final e não conseguirem mensurar o valor do seu trabalho.


Na mesma obra, Marx denuncia a desigualdade entre o que o colaborador produz em relação ao que ele recebe, utilizando o termo “mais valia”; por exemplo, numa indústria de panelas, ele consegue [junto com sua equipe de trabalho] produzir em torno de 300 produtos por dia e com esse resultado, consegue girar em torno de R$15.000 por dia. Porém, eles juntos recebem em torno de R$ 7.000 e o restante dos dias trabalhados segue inteiramente para o empresário.


Em 1956, o economista Ludwig Heinrich Edler von Mises, em uma das suas obras (A mentalidade anticapitalista) discorre sobre o funcionamento do capitalismo e por que a sociedade criou aversão ao sistema econômico. Afirma que o sistema capitalista é a doutrina econômica mais eficaz para mobilidade social, onde pessoas de classes inferiores podem ascender para as classes superiores. Do mesmo modo, pessoas ricas podem se tornar pessoas pobres. Contrário ao conceito de mais valia, o lucro serve como motivação aos empreendedores. Defende o lucro porque o empresário assume risco quando monta algum negócio, bem como assume todo o trabalho administrativo que requer mais esforço que o simples trabalhador que tem seu salário garantido no fim do mês.


Diferente de Marx, o economista disparou:

 

“Capital não gera lucro”. (MISES, 1956).

 

Os bens de capital, como tais, são coisas mortas que em si mesmos não realizam nada. Se eles são utilizados de acordo com uma boa ideia, os resultados do lucro surgirão; se forem utilizados de acordo com uma ideia equivocada, nenhum resultado de lucro ou perdas. É a decisão empreendedora que cria lucro ou perda.


Assim sendo, o lucro advém de estratégias criadas pelo empreendedor que se arrisca em determinado empreendimento e o salário é o valor reduzido ao funcionário que não criou toda a complexa estrutura. Não se leva em consideração muitos criminosos no passado, que são ricos [até os dias atuais], porque suas famílias exploraram de todas as formas possíveis alguns grupos. Aqui eu aponto os empreendedores que conquistaram seu patrimônio através da luta incessante, da pesquisa constante e da autorresponsabilidade.


Sob minha ótica, em toda conjuntura da construção de uma empresa, o empreendedor deve ganhar mais que o próprio colaborador que chega depois e apenas reproduz um serviço. Porém, a proporção de lucro de muitas empresas é absurda – a qual eu não enxergo como nobre – ao ponto da maioria dos seus funcionários viver em condições desumanas e sem nenhuma expectativa de crescer em um plano de carreira. Enriquecer absurdamente é mais importante do que favorecer qualidade de trabalho aos seus colaboradores.


De acordo com Oliveira Vianna:

 

"Não importa a pobreza dos caudilhos bandeirantes; não importa a ausência do luxo: todas as aristocracias guerreiras sempre foram desdenhosas da riqueza e do luxo. Foi assim a aristocracia grega da era homérica. Foi assim a aristocracia romana da era republicana. Foi assim a aristocracia feudal da Idade Média. Foi assim a aristocracia peninsular da era da Reconquista. Foi assim, entre nós, a aristocracia guerreira, saída do ciclo das guerras platinas (...)". (2019).

 

Portanto, os altos lucros de "grandes corporações" (não de pequenas) devem ser reaplicados também em seus colaboradores, em plano de carreira, na condição de trabalho, como fornecer mais recursos (uniforme, alimentação, descanso etc), flexibilizar o horário de trabalho, incentivos à educação, reuniões estratégicas a fim de diminuir problemas psicológicos adquiridos em trabalhos exaustivos, mesmo sendo difícil mensurar o valor-trabalho. Nítido é que grandes empresas ganham excessivamente em cima de seus trabalhadores e por isso, é necessário dispor uma harmonia desde os grandes cargos até os pequenos cargos, pois não há sentido uma empresa bilionária ter funcionários que são explorados ao máximo.


Jorge Gomes.

Pedagogo.

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